Análise forense identifica caixão que pertenceu a uma múmia egípcia de 2.700 anos
Os olhos artificiais de uma múmia egípcia — colocados para ajudá-la a ver na vida após a morte — revelaram muito a ela nos últimos 2.700 anos. Ao examinar a múmia no Museu Britânico, pesquisadores pensaram que os restos eram masculinos após imagens de raios-X da década de 1960 revelarem um denso empacotamento entre suas pernas. Mas havia uma potencial correspondência entre um trio de caixões de madeira lindamente detalhados, adquiridos em conjunto com a múmia, que trazia hieróglifos descrevendo uma mulher dona de casa chamada Nestawedjat. Ela viveu na atual cidade de Luxor durante a 25ª dinastia do Egito, em aproximadamente 700 a.C., quando foi governado pelos faraós kushitas do Sudão.
Em novo estudo publicado no Journal of Archaeological Science: Reports, a curadora Marie Vandenbeusch e seus colegas verificaram se a múmia e os caixões realmente pertenciam um ao outro. Sua primeira pista veio de tomografias computadorizadas que revelaram que a múmia era do sexo feminino, o que combinava com a descrição dos caixões. Eles então analisaram a composição química do resíduo de embalsamamento preto, no canto superior esquerdo do caixão. Os ingredientes desta substância — principalmente cera, óleo e gordura — continham proporções idênticas aos resíduos no ombro esquerdo da múmia.
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“Reunir tudo isso é um grande trabalho de detetive”, diz Vandenbeusch. Ela observa que múmias fora de caixões são comuns em coleções antigas; e este processo pode facilitar testes de correlação. (As tomografias também detectaram seus olhos artificiais, feitos de dois materiais que podem ser vidro ou pedra.)
Ronald Beckett, cientista biomédico da Universidade Quinnipiac não envolvido no estudo, elogia a metodologia por utilizar da química, e adiciona: “a análise dos componentes das misturas de embalsamamento [também] contribui para compreensão dos antigos métodos de preparação dos mortos”.
Não está claro porque Nestawedjat foi removida de seus caixões, mas a pesquisa de arquivo de Vandenbeusch sugere que um coronel adquiriu os restos no Egito em meados do século 19, enquanto estava a caminho da Índia. Ele morreu no seu destino, mas Nestawedjat acabou em Londres — onde agora está reunida com seus caixões.
Joshua Rapp Learn
Publicado originalmente na edição de abril da Scientific American dos EUA; aqui em 03/05/2022.