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Novo coronavírus é capaz de reduzir dores em indivíduos contaminados

Efeito de analgesia poderia explicar por que parte das pessoas contaminadas não sente qualquer mal estar, o que pode contribuir para maior disseminação da doença

Créditos: Getty Images

O SARS-CoV-2, o vírus  causador  da COVID-19, tem a capacidade de aliviar a dor, sugere um novo estudo publicado na revista Pain. A descoberta poderia explicar porque quase metade das pessoas que foram contaminadas com a doença  vivenciaram poucos ou nenhum sintoma, embora tenham inclusive contaminado outras pessoas. É o que diz um dos autores do estudo, Rajesh Khanna, da Universidade do Arizona. 

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No dia 10 de setembro, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos publicou dados estimando que 50% das transmissões de COVID-19 ocorre principalmente antes que os sintomas aparecesse. Além disso,  40% das infecções por COVID-19 são assintomáticas.    

Khanna acha  que a ausência de dor seja um elemento importante para explicar o alto grau de infecção observado na COVID-19. “A pessoa  tem o vírus, mas não se sente mal porque não tem dor. Se conseguirmos provar que essa falta de dor é o que está favorece  o contágio pela COVID-19, isso será  muito importante.” 

A pesquisa levanta a possibilidade de que a dor, um sintoma inicial da COVID-19, pode ser reduzida pela ação da proteína spike do vírus, que atuaria silenciando os caminhos pelas quais a dor é sinalizada no organismo. 

Os vírus infectam as células hospedeiras através de receptores de proteínas em membranas celulares. No começo da pandemia, os cientistas constataram que a proteína spike do SARS-CoV-2 utiliza o receptor ACE2 para entrar no corpo. Mas em junho, duas pesquisas foram publicadas no servidor de pré-publicações bioRxiv apontavam o neuropilina-1 como um receptor secundário para o SARS-CoV-2. 

Nos últimos 15 anos, o laboratório de Khanna estudou  um complexo de proteínas e caminhos que se relacionam com o processamento da dor que está ocorrendo na neuropilina. Khanna então suspeitou que  talvez a proteína spike estivesse  envolvida em algum processo relacionado a dor. 

A dor é sinalizada ao corpo através de muitos caminhos biológicos. Um deles envolve a proteína  Fator de Crescimento Endotelial Vascular A (VEGFA), que tem papel essencial no crescimento de vasos sanguíneos mas também já foi associada  a doenças como câncer, artrite reumatóide e, mais recentemente, COVID-19. 

Quando a VEGFA se liga ao receptor neuropilina, ela dá início a  uma cascada de eventos que resulta na hiperexcitabilidade dos neurônios, o que leva à dor. Khanna e sua equipe  descobriram que a proteína spike  se liga à neuropilina exatamente nos mesmos pontos onde a  VEGFA se conecta também. 

Sabendo disso,  eles realizaram uma série de experimentos de bancada e com modelos animais  para testar a hipótese de que a proteína spike da SARS-CoV-2 atua no via que envolver a VEGFA e a neuropilina. Eles utilizaram a VEGFA como um acionador para induzir a excitabilidade de neurônios, que cria dor, e depois  acrescentaram a proteína spike. Constataram que a spike reverteu completamente a sinalização de dor induzida pela VEGFA. 

“Nós estamos avançando no desenvolvimento de pequenas moléculas contra a neuropilina, particularmente com compostos neurônios, que poderiam ser importantes para o alívio da dor”, disse Khanna. “Nós temos uma pandemia, e temos uma epidemia de opióide. Elas estão colidindo. Nossas descobertas possui grandes implicações para ambos. O SARS-CoV-2 está nos ensinando sobre o contágio viral, mas a COVID-19 também nos faz olhar para a neuropilina como um método sem opióide para combater a epidemia de opióides”. 

Publicado em 05/10/2020

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