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Algumas universidades nos EUA bateram recordes de infecções por COVID-19 após reabertura

Em alguns lugares, média semanal de infecções foi até 100 vezes superior à média nacional. Gestores, porém, conseguiram abrandar crise adotando medidas restritivas e flexibilidade para ensino à distância.

Crédito: Envato elements

Os campi de faculdades correm o risco de se tornarem pontos de elevada incidência de contaminação de COVID-19, e o perigo maior concentra-se nas primeiras duas semanas de aula, sugere um novo estudo.

Os pesquisadores analisaram  dados coletados nos 30 campi que apresentaram o mais elevado número de contaminações nos EUA. A análise mostrou que, durante as duas primeiras semanas de aula, as instituições apresentaram picos de contaminação que ultrapassavam em muito a média referência  nacional de 1000 casos  para 100 mil pessoas por semana. A pesquisa foi publicada ontem na revista  Computer Methods in Biomechanics and Biomedical Engineering.

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Em algumas faculdades, um de cada cinco estudantes havia sido infectados com o vírus SARSCov-2 até meados de dezembro. Quatro instituições tiveram mais de 5 mil casos. Para 17 dos campus estudados, uma nova modelagem da doença, desenvolvida por cientistas da Universidade Stanford, representou os surtos  na forma de picos de infecção que afetaram todo o condado onde fica a instituição.   

No entanto, o estudo sugere que medidas duras de combate à contaminação, tais como a substituição imediata do ensino presencial pelo ensino à distância, podem reduzir os picos num período de duas semanas. 

A principal autora do artigo, Hannah Lu, do programa de Engenharia e Recursos Energéticos de Stanford, diz que os níveis de contaminação detectados, que chegaram a  1000 casos por 100 mil pessoas por semana, são bem superiores ao que foi medido na primeira onda da pandemia, onde as médias variavam entre  70 a 150 contaminações por 100 mil a cada semana.  Lu diz que há sério risco de que as universidades do país se tornem pontos de alto índice de contaminação. 

“Em geral, as autoridades públicas adotam o número de 50 novos casos semanais de COVID-19 para cada 100 mil pessoas como um valor limite na gestão de condados, estados ou países de alto risco. Todas as 30 instituições em nosso estudo excederam esse valor,  por até uma ou até duas ordens de magnitude”, ela diz. 

A média nacional de infecções registrada desde o começo do surto nos EUA é de  5,3% da população. São  17,3 milhões de casos relatados em uma população com 328,2 milhões. O estudo mostrou que a percentagem de estudantes que foram infectados somente durante o outono no Hemisfério Norte é mais que o dobro dessa média nacional. “Na Universidade de Notre Dame, por exemplo, todos os 12,607 estudantes foram testados antes do começo da aula e somente nove testaram positivo. Menos de duas semanas depois, o número de casos detectados ao longo de sete dias  foi de 3083, com um número de reprodução R0 de 3,29″, diz Lu. 

Os autores ressalvam que, no tocante à mortalidade entre as pessoas infectadas, foram registradas 90 mortes, muito mais entre funcionários das faculdades do que entre estudantes. Isso implicou numa taxa de letalidade relacionada às universidades de  0,02%, um valor muito abaixo da média nacional nos EUA.  

Os pesquisadores  recolheram relatos de casos de COVID-19 de 30 conjuntos de dados de instituições que foram disponibilizados  publicamente nos Estados Unidos durante o outono de 2020. Essas instituições adotavam ensino presencial, ensino à distância ou um híbrido de ambos. Os pesquisadores selecionaram aquelas universidades onde novos casos são relatados diariamente, e onde houve mais de uma centena de infecções. 

Ellen Kuhl, que é a autora sênior do artigo, acrescenta: “surpreendentemente, esses surtos locais nos campi  rapidamente se espalharam por todo o condado onde ficam as universidades.  E causaram um pico de novas infecções nas comunidades vizinhas em mais da metade dos casos”. Ela acha que está ficando  claro que esses surtos iniciais das faculdades não estão relacionados à dinâmica nacional do surto. Ao invés disso, são eventos locais, independentes, causados pela reabertura das faculdades e pela volta dos estudantes ao campus. “Nossos resultados confirmam o temor generalizado, que havia no começo do outono, de que a volta do ensino presencial nas faculdades fizessem delas novos focos de transmissão da COVID-19. Mas, ao mesmo tempo, os gestores das universidades devem ser aplaudidos por suas respostas rápidas para administrar com sucesso surtos locais.” 

Todos os campus analisados adotaram programas de testes regulares, uma ou mesmo duas vezes por semana, que foram combinados com com estratégias agressivas para conseguir, a partir do teste, localizar e isolar os indivíduos infectados. 

“A maioria das faculdades e universidades conseguiu rapidamente administrar seus surtos e suprimir a ocorrência de infecções pelo campus. Já as comunidades onde elas estão  não tiveram o mesmo sucesso em  controlar o contágio. Como resultado, para a maioria das instituições, a dinâmica do surto permaneceu administrável durante todo o outono de 2020 com picos de menos de 300 casos por dia”, declara Lu.  “Nosso estudo sugere que essas estratégias fortes de testar, localizar e isolar, a flexibilidade para adotar o ensino à distância e, em especial, a obediência aos regulamentos locais  serão cruciais para garantir uma reabertura segura dos campi após a pausa de inverno”, ela acrescenta. 

Para Kuhl, o aspecto mais importante sobre a reabertura dos campus dentro das próximas semanas será o fator humano. “Infelizmente, o período de outono mostrou que a melhor de todas as estratégias podem se tornar insignificante caso as pessoas não sigam as recomendações.” 

 

Publicado em 14/01/2021

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